Capitão Adalberto Mendes

CHEGADA AO PALMEIRAS
"Em meados de 1942, na condição de capitão do Exército brasileiro, fui designado para servir em São Paulo. Chegando a Capital paulista, encontrei-me casualmente na Praça do Correio com Ernani Jota, um ex-jogador do Vasco da Gama, RJ dos tempos em que lá estive como diretor de esportes, que me apresentou a Armando Gargaglione, na época secretario geral do Palestra Itália.
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Este dirigente palestrino me convidou para conhecer as instalações do alviverde, e a forma como fui recebido pelo presidente Ítalo Adami, com toda a consideração, o respeito e a reverencia; cativou-me por completo, passando então eu a ser um fervoroso torcedor do clube".

A PRESSÃO
"Em razão da II Guerra Mundial e de o Brasil ter se colocado contrário ao lado defendido pela Itália, a Radio Record, emissora que pertencia ao Dr. Paulo Machado de Carvalho, deu inicio a uma campanha encabeçada pelo locutor Geraldo Jose de Almeida que afirmava ser o Palestra uma equipe inimiga da Nação. Não existia nenhum ato oficial que nos obrigasse a mudar de nome, mas a campanha era forte. Criou-se a lenda de que no Palestra Itália havia traidores do Brasil, mas o que estes homens tinham, na verdade, era um falso patriotismo, pois seu objetivo se fundamentava na captação do nosso patrimônio.
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Certo dia, precisei ia ao Rio de Janeiro para resolver um problema envolvendo o atacante Echevarrietta. Como argentino, ele de repente se viu impedido de jogar pelo alviverde, e para isso tive de ir a CBD solucionar a questão. Lá, fui contatado por Sílvio de Magalhães Padilha, diretor do DEFE. Ele me pediu para que, ir na condição de vice-presidente do Palestra, intercedesse no sentido de alterarmos o nome da nossa agremiação, sob pena de termos todo o nosso patrimônio perdido. Fui muito claro a ele e assegurei que, por mim, nada mudaria".
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O problema e que a pressão aumentava de forma espantosa. Jornais estampavam manchetes colocando o Palestra Itália como "camisas pretas", uma alusão as nações inimigas do País. Foi quando o presidente Ítalo Adami decidiu, durante uma reunião que se estendeu até as 4 horas da madrugada e contra a minha vontade, alterar o nome do clube para Sociedade Esportiva Palmeiras.

A ENTRADA TRIUNFAL
"Estávamos as vésperas de um jogo decisivo contra o São Paulo Futebol Clube, a equipe do Dr. Paulo Machado de Carvalho. Boatos diziam que haveria um clima de muita hostilidade por parte da torcida para com nossos jogadores, que realmente estavam preocupados. Percebi isso e notei também, que nosso treinador, Del Debbio, tinha em mãos uma bandeira brasileira.
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Eu sabia que a exibição do pavilhão nacional só era permitida em eventos internacionais, mas chamei a responsabilidade para mim e orientei nossos atletas a entrarem, ao meu lado, carregando-o e o exibindo à toda a torcida que superlotava o Estádio do Pacaembu. Após alguns segundos de surpresa por parte de todos, fomos muito aplaudidos e nenhum ato hostil nos foi desferido". 
A "ARRANCADA HERÓICA"
"O jogo seguia tranqüilo e já vencíamos por 3 a 1 quando, no segundo tempo, Virgilio atingiu Og Moreira com os dois pés, e o árbitro Jaime Janeiro marcou pênalti a nosso favor. O jogador do São Paulo, Luizinho, pegou a bola com as mãos e se dirigiu ate o banco de suplentes, onde se encontrava o Dr. Paulo Machado de Carvalho, que me pareceu ter ordenado a saída de campo dos seus atletas. E foi o que eles fizeram. O árbitro esperou alguns minutos e deu por encerrada a partida que, diante da nossa vitória, se transformou no jogo do titulo".

REPRESÁLIA SIM,  ARREPENDIMENTO NÃO.
"Apos a nossa “Arrancada Heróica”, fui vítima de muitas mentiras. Diziam que eu seria um “Quinta Coluna”, como também eram chamados os simpatizantes do nazi-fascismo. Por causa destes problemas, fui transferido logo depois pelo Comando Militar para o Rio de Janeiro, RJ em seguida para Recife PE e somente quando dei baixa, já depois de 1949, pude retornar a São Paulo, SP.
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Aqui chegando, retomei minhas atividades no Palmeiras, do qual fui diretor de futebol em 1954 e também em 1963. Apesar destas represálias, jamais me arrependi do que fiz. Fico é gratificado porque contribuí para o bem de um clube oriundo de uma gente que fez muito por esta Cidade. Se hoje o Estado de São Paulo é grande, deve isso a colônia italiana".




Texto Retirado do Site Palestrinos









  










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