História

Luigi Cervo, Vicenzo Ragognetti, Luigi Emanuele Marzo e Ezequiel Simone, idealizaram a formação de um clube de futebol representativo da comunidade italiana e projetaram a criação do Palestra Italia. Os sucessos obtidos pelas apresentações dos clubes italianos Pro-Vercelli e Torino ao excursionarem a São Paulo, em 1913 e 1914, inspiraram e estimularam os idealizadores do Palestra. Mais que nunca, desejavam criar um clube de futebol que, em terras paulistas, congregasse a imensa colônia italiana. A partir desta idéia surgiu a seguinte carta no “Fanfulla”:
Pela formação de um quadro Italiano de Futebol em São Paulo.
São Paulo, 14 de agosto de 1914.
Egrégio Sr. diretor do  "Fanfulla":
Uma palavra apenas e para esta um cantinho no vosso jornal.  Eis do que se trata: alguns conhecidos futebolistas italianos, mas associados à clubes brasileiros, encarregaram-me de escrever-vos acerca de um projeto pôr eles ideado, entre dois  goles de café, fazendo-me então compreender que tal projeto o vosso jornal deverá se tornar o propugnador e o propagandista.
Nós temos em São Paulo - afirmam os referidos esportistas - o clube de futebol dos alemães,  dos ingleses, dos portugueses, dos internacionais e mesmo dos católicos e dos protestantes,  mas,  um  clube que seja exclusivamente de "sportmen" italianos, e sendo nossa colônia a maior do Estado, nada se tentou ainda realizar!
Futebolistas italianos que jogam bem encontram-se em  São Paulo, porque, de comum acordo, não reunimos os referidos senhores, e assim como  temos associações de remo, filodramáticas, mundanas, patrióticas, etc., etc., de estrutura italiana, poderemos também ter um  clube de futebol exclusivamente de italianos".
Ai fica a proposta dos futebolistas italianos; com vossa senhoria, diretor, o comentário.
Vicente Ragognetti.
Após à publicação desta carta, parece que se notou no seio da juventude da colônia, um imprevisto e maravilhoso despertar do entusiasmo pelo jogo do futebol, conseqüência da visita dos jogadores peninsulares no Brasil.
Cinco dias depois da publicação da referida carta, na mesma rubrica do mesmo jornal, em data de 19 de agosto, apareceu o seguinte comunicado:
PALESTRA Italia
Foi organizada uma diretoria provisória, para a formação de uma sociedade que será denominada Palestra Italia. A sociedade compreendera também a seção filodramática e dançante, uma seção esportiva objetivando a organização de um time puramente italiano para o jogo do "football".
Os aderentes, que. até ao momento se compõem de estudantes e empregados no comércio, reunir-se-ão hoje às 20 horas no Salão Alhambra, à rua Marechal Deodoro nº 2 (atual Rua Riachuelo), com o fim de eleger a diretoria provisória e para a completa formação da sociedade. Este comunicado foi publicado sob os auspícios de funcionários da firma Matarazzo local, cujos elementos pertenciam ao elenco de sócios da sociedade Recreativa Bela Estrela, pertencentes ao partido da oposição. Desgostoso com a atitude da direção da "Bela Estrela", o grupo de empregados da Matarazzo pensou em retirar-se e formar uma sociedade dançante à parte com sua seção esportiva.
Sendo todos italianos ou filhos, de italianos; por proposta do Sr. Luigi Cervo, que chefiava, o grupo em questão, foi decidido denominar-se a sociedade que se pretendia fundar "Palestra Italia": Na noite de 19 de agosto de 1914; no salão Alhambra compareceram 37 pessoas de origem italiana ou de descendência italiana.
Foi convidado para presidente da reunião, o Sr. Ezequiel, servindo de secretario, o Sr. Luigi Cervo, que na qualidade de antigo esportista, educado no S. C: Internacional, podia ser considerado como o mais indicado organizador da sociedade futebolística italiana, então em vias de completa formação. Nessa reunião; foram lançadas as bases para a fundação do "Palestra Italia" e os Srs. Luigi Cervo e Luigi Emanuele Marzo, foram incumbidos de compilar o projeto dos estatutos que deveriam reger a sociedade.
A primeira assembléia geral foi realizada em 26 de agosto, noite em que deveria ser oficialmente proclamada a fundação da sociedade.
Por gentileza da atual diretoria, podemos aqui transcrever o texto da ata da histórica reunião. Ei-la:
“Presentes 37 sócios; conforme lista subscrita, o Sr. Ezequiel Simone foi, por unanimidade dos presentes, nomeado presidente provisório para, dirigir os trabalhos da presente assembléia”.
O Sr. Simone agradece e tomando posse do cargo; abre a seção às 9 horas, lendo a seguinte Ordem do Dia, para discutir:
1.° ‑ Leitura, da ata da seção preparatória.
2.° ‑ Discussão e aprovação do estatuto e de diversos regulamentos internos.
3.° ‑ Eleição do conselho deliberativo.
4.° ‑ Várias.
Aprovada por unanimidade, fala em primeiro lugar o Sr. Armando Rebucci, que indaga de que modo e com quais meios se deve constituir a biblioteca para a instrução intelectual. O Sr. presidente explica que a biblioteca será oportunamente organizada, com a colaboração de sócios que desejem oferecer livros a sociedade, com fundos sociais ou com subscrição.
Lido o capitulo 2.°, o presidente cede o posto ao secretario e propõe a anulação do artigo que fala dos sócios perpétuos, alegando que tal qualidade de sócios e mais para as sociedades, de mutuo socorro, do que para a nossa.
O Sr. Ragognetti, entretanto, opta pela admissão dos sócios perpétuos, sendo do mesmo parecer o Sr. Rebucci.
O Sr. Simoni insiste em sua proposta.
O Sr. Luigi Medici associa-se à proposta Ragognetti, tendo o presidente posto em discussão as duas propostas; resultando aprovada por maioria a proposta Ragognetti.
O Sr. Oberdan Zamboni, pede explicações sobre o parágrafo "F" do art. 4, relativo aos sócios correspondentes, sendo feita nova leitura, com a qual Zamboni se confessa satisfeito, sendo depois disto aprovada a proposta.
É lida a proposta 3a. Revisto § 6° do art. 7° ‑ Deveres dos sócios
‑ O  Sr. Ragognetti propõe que  a  quota   mensal  para  os  sócios,  efetivos seja de 5$000, quando no estatuto mencionava 3$000. O Sr. Rebucci associa-se ao Sr. Ragognetti, enquanto que alguns presentes optam pelos 3$000. Então o presidente põe em discussão o parecer, tendo a maioria aprovado a quota de 3$000. Discutiu-se depois a taxa de admissão de que trata o capitulo 6. Cervo propõe 5$000 como taxa de admissão, o que foi aprovado por 21 votos.
Lidos os capítulos. 4, 5, 6, 7 e 8, foram todos aprovados por "unanimidade.
Finalmente, o presidente submete ainda uma vez à aprovação o estatuto, com as modificações feitas, sendo o mesmo aprovado por unanimidade.
O Sr. Rebucci pede a palavra e propõe um voto de aplauso aos que compilaram o estatuto.
0 presidente não concede a discussão por tratar-se de assunto concernente as várias, e, de acordo com os presentes, pede a aprovação do regulamento a juízo do futuro conselho.
Procede-se então à eleição do conselho deliberativo, por escrutínio secreto. Votaram 34 presentes.
É eleita a seguinte diretoria :
Presidente, Ezequiel Simone (28 v.); vice-presidente, Luigi E. Marzo (unan.); secretário, Luigi Cervo. (unan.); vice-secretário, Antonio Aulicino (unan); revisores de contas, Guido Giannetti, Oreste Giangrande, Armando Rebucci; (todos por unanimidade) ; tesoureiro, Francisco de Vivo (33 v.); 1º mestre-sala, Alvaro F. Silva; 2º mestre-sala, Francisco Morelli; inspetor de sala, Francesco Cilento e Adolfo Izzo; diretor esportivo, Vicenzo Ragognetti (32 v.).
O Sr. presidente e depois o Sr. Luigi Cervo, agradecem aos presentes a confiança neles depositada, prometendo fazer o possível, mesmo com sacrifícios, para que o Palestra Italia ocupasse o primeiro lugar entre sociedades congeneres, como digna do nome que leva e que invoca a pátria distante. Em vista do adiantado da hora, e nada havendo de importante a tratar, o presidente dá a seção por encerrada, às 24 horas e 55 minutos.
Aprovada por unanimidade de votos.
São Paulo, 7 de outubro de 1914.
O presidente (assina) - Ezequiel Simoni.
O secretário (assina) - Luigi Cervo".
Assim, oficialmente, na noite de 26 de agosto de 1914, foi proclamada a fundação do "Palestra Italia".
Texto: Tomás Mazzoni  do livro História do Futebol


Texto retirado do Site Palestrinos